quarta-feira, 2 de setembro de 2015

57 quilos

Fevereiro a abril de 2010. Eu pesava 57 quilos, tinha cabelos dourados e grandes, um rosto bonito e exótico, mas vivia em guerra comigo mesma 24 horas por dia. Qualquer problema em minha vida eu relacionava ao peso, ao corpo; se um garoto não se interessava por mim, eu acreditava ser por conta do meu peso, sendo que não estava, sequer, gorda. Mas na minha cabeça, eu precisava emagrecer mais e mais.
Logo, o hábito de comer guloseimas e vomitar foi se tornando maior. Eu possuía guardado um dinheiro, aproximadamente R$ 400,00 e comecei a comprar coisas para alimentar o ciclo: chocolates, salgados de padaria, biscoitos recheados, todos em quantidades enormes para comer e depois vomitar. 
Ainda me lembro que costumava comer, de uma vez, quatro pacotes de negresco e em seguida forçar o vômito. 
Como consequência, aparentava cada vez mais palidez, cabelos sem vida, os esmaltes dos dentes estavam se degradando e, por conta da reação das glândulas salivares, o ato de forçar o vômito continuamente deixava meu rosto inchado, e eu odiava isso. Além de tudo o que já estava passando, me sentia horrível por conta disso, o que influenciava diretamente na decadência do meu humor. Eu tratava todos à minha volta com desprezo, tinha raiva de tudo e todo mundo, não valorizava e não permitia a aproximação de ninguém. Tudo simplesmente por me sentir extremamente mal comigo mesma...

2010

Após os últimos cinco conturbados meses de 2009, com a chegada de um novo ano, vinha um possível sinal de melhora. Chegava 2010 e, junto com ele, meu ingresso no ensino médio. Um mundo totalmente novo e também esperado, porém, longe de todos os meus amigos que até então haviam marcado minha vida de ensino fundamental: a maioria iria para o colégio com a maior fama de rigoroso e prestigiado. Eu, como sempre nadei contra a corrente, escolhi um colégio menor, mas ainda bom. 
Porém, bastaram as aulas se iniciarem para perceber que melhora foi a palavra menos presente em minha vida naqueles trágicos meses. 

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Depressão

2009 havia começado radiante e permanecido assim por tanto tempo, mas agora tudo era frio, sem cor, não havia dias felizes e tudo o que eu sentia era solidão. Eu estava num poço que nunca acabava, sentia que meus amigos não estavam ao meu lado e nem ninguém, e a comida era minha maior inimiga... Já estava com machucados nas mãos devido ao atrito com os dentes de tanto colocar os dedos na garganta, e a palidez era aparente. No mesmo período, minha avó marcou uma psicóloga para mim - a primeira de muitas - mas foi um fiasco. 
Minha autoconfiança estava agora pior do que nunca. A dor interna era tanta, mas tanta, que uma noite, após um ataque de compulsão (lembro-me de comer queijo, salada de frutas e vários pães), a frustração era tanta que tentei acabar com a minha vida. 
Peguei uma faca afiada na cozinha e fui para debaixo do chuveiro na intenção de cortar os pulsos, mas sempre que começava, a dor física era grande e eu desistia. Então, tomei vários remédios e fui deitar, na esperança de não acordar mais. 
Após algum tempo, meu coração começou a bater muito forte e muito rápido e comecei a suar frio, e fui ficando muito assustada, porém tive receio de acordar meus avós, pois já dormiam, então desci e pedi ajuda para o porteiro, que ligou para eles. Tive de contar o que eu havia feito e, após várias broncas, me levaram ao hospital. Chegando lá, tive de fazer uma lavagem estomacal para que os remédios fossem retirados do meu estômago. Me lembro da minha avó chorando enquanto o médico me examinava... Tudo por coisas que eu mesma havia provocado.
Enfim, feita a lavagem, que não foi a melhor das experiências, fui liberada a ir para casa. 

"Você não tem nada pra me contar?"

A coisa foi seguindo e se desenvolvendo lentamente, porém crescendo. Nenhum familiar sabia, até então. 
Eu havia ido dormir na casa da minha mãe, mas antes, estávamos assistindo um filme. Lá, sempre tinha biscoito recheado, coisa que eu adorava, então logo ataquei. Em seguida, fui ao banheiro botar para fora. Quando voltei e me deitei ao lado da minha mãe, ela ficou estranhamente calada pelo resto da noite.
No dia seguinte, quando eu já estava em casa, minha avó recebeu uma ligação e surpreendentemente, era da minha mãe. Após alguns minutos no telefone, veio falar comigo calmamente:
- Mallu, tem alguma coisa que você quer me falar?
Eu, confusa porém com medo de ter sido descoberta, me fiz de desentendida, foi quando ela soltou:
- Você está vomitando?
Sinceramente, eu não me lembro o que respondi. Mas me lembro de ter perguntado sobre como ela descobriu, e acho que até de ter chorado. A partir desse momento, eu comecei a estragar não só a minha vida, mas também a da minha família...

As Castanhas e o Baldinho

Eu pesava por volta de 64 quilos quando o mês de agosto de 2009 começou. Estava num corpo mediano, progredindo no emagrecimento e tudo estava indo bem até então. Porém, numa reunião familiar na casa de uma tia, novamente muitas guloseimas à disposição, não resisti e comi muito. E novamente me veio a mesma ideia à cabeça, de vomitar... Foi quando fiz pela segunda vez. Foi mais fácil, vomitei mais, e isso havia me deixado satisfeita, apesar de eu ter prometido a mim mesma jamais repetir o ato. Porém ter quebrado a promessa foi o início da minha ruína...
Comecei a comer as castanhas que meu avô comprava todos os dias na hora do almoço em uma quantidade absurda, e logo em seguida ia para o banheiro para colocar tudo para fora. Já não utilizava mais a escova de dentes, mas sim, os dedos para forçar o vômito, e ouvia música para ajudar. Com medo de ser descoberta por conta do barulho na água do vaso sanitário, comecei a usar um baldinho que tínhamos em casa para limpeza. E todo santo dia era isso: eu me enchia de castanhas ou da guloseima que tivesse, depois ia para o banheiro e vomitava tudo no balde. E ninguém sabia.

"Vó, fiz uma coisa horrível"

Disposta a me livrar das tantas calorias que havia consumido, fui para o banheiro mais afastado, tranquei a porta, peguei uma escova de dentes e fiquei um bom tempo tentando tomar coragem. Até que respirei fundo e comecei a tentar forçar o vômito com o cabo da escova. E que sensação péssima... Foi algo tão invasivo que os olhos lacrimejaram, tamanho o reflexo do organismo ao estímulo. E não saía quase nada, mas me lembro bem de ver pedaços do chocolate branco ali, no vaso, cena que nunca esqueci.
Alguns minutos depois desisti, me recompus física e psicologicamente, jurei a mim mesma que jamais faria aquilo de novo e fui até o quarto dos meus avós, onde minha avó estava lendo jornal.
- Vó, fiz uma coisa terrível. 
Contei a ela o que eu havia acabado de fazer, com arrependimento. Ela, no entanto, não se importou muito, mas me disse para não repetir a atitude. E foi assim por umas duas, três felizes semanas...

O Chocolate Branco

Além dos supostos problemas que vinha desenvolvendo com minha própria imagem, inventei de querer emagrecer mais nas férias de julho daquele mesmo ano por causa de um garoto do qual eu era afim, e que, para piorar, ainda era mais novo que eu. Cortei meu plano alimentar pela metade e continuei com a academia. Até aí, tudo certo, porém meu corpo começou a sentir a carência dos alimentos e foi questão de semanas para que o pior acontecesse...
Numa tarde de um fim de semana ocioso, creio que um domingo, academia fechada e sem absolutamente nada para fazer, a privação constante de qualquer "guloseima" durante quase um mês começou a me deixar com um desejo incontrolável de comer algo do tipo, e eu sabia que meu avô sempre guardava essas coisas pela casa. Não resisti e fui procurar... E achei. Eram alguns bombons, 4 no máximo, mas me lembro mais do que era de chocolate branco, acho que aquele "Galak". Sem me conter, comi todos como se houvesse passado fome por dias, e logo veio o arrependimento...
Fiquei desesperada. O mês já estava no fim e o início das aulas se aproximava, a academia estava fechada, não tinha saída. Eu havia consumido uma quantidade grande de calorias ali, pelo menos para meus padrões. Foi quando me lembrei de uma aula que tive sobre transtornos alimentares no início do mesmo ano, e nesta, falava sobre uma tal de "Bulimia", onde meninas comiam e depois vomitavam para evitar o ganho de peso. 
"É isso o que eu vou fazer..." - Pensei, apesar de não querer, mas me vi sem opções.